domingo, 7 de fevereiro de 2016

Terça ou Quinta?


     Não acredito! Vou precisar correr de novo.Toda manhã é a mesma coisa. Vou acertar meus horários. Tenho que chegar ao escritório a tempo de falar com ele antes de Liana. Preciso conversar com ele antes que ela despeje todo o seu veneno.Com sorte, descendo essa escada correndo chego na  plataforma a tempo de entrar no trem.
     Por que as pessoas não sobem a escada pela direita? Porque? Por que sempre tem alguém obstruindo a minha passagem. Não vou conseguir! Não, não vou!
     Quando chegar ao escritório não dará mais tempo. Escuto o som do trem e estou nos primeiros degraus da escada, uma pessoa sobe na minha direção, pela esquerda, carregando muitas sacolas e esbarrando em mim, o suficiente para me atrasar mais ainda.
     Não consigo me controlar e falo em tom irritado: Suba sempre pelo lado direito, por favor! A mulher me olha incrédula. E eu não acredito na minha própria irritação. Tudo parece dar errado já nas primeiras horas da manhã. Continuo descendo a escada, minha testa está molhada de suor. O trem está na plataforma, mais um pouco e conseguirei. Meus olhos controlam os degraus e ao mesmo tempo a porta aberta me esperando.
     Preciso levantar mais cedo. Não, na verdade tenho de deitar mais cedo.Tenho de perder esse costume de ver filme até muito tarde, estou pagando o preço por não descansar o suficiente. Hoje é terça-feira e eu estou exausto, até parece na verdade quinta, aquelas quinta em que você fica torcendo para que seja sexta. Quem ainda não  confundiu uma quinta com uma sexta? Isso acontece sempre comigo. Exausto. Sinto-me exausto e irritado. Agora só falta chegar atrasado no escritório para que a terça-feira se complete.
     Não vai dar. Escuto o zunido da porta do trem fechando. Olho fixamente para o primeiro vagão, meus olhos na verdade ultrapassam a cabine onde se encontra o condutor, como se quisesse que ele entendesse que não posso perder esse trem. Ele precisa abrir essa porta. Como pode fechar a porta assim? Eu continuo olhando para o primeiro vagão, esperando. O trem começa a movimentar-se. Minha vontade é xingar o  condutor, a mulher das sacolas, a escada e até a pessoa que vem logo atrás de mim, apesar de estar na mesma situação que eu, afinal, também perdeu esse trem. 
     Que remédio? Só resta esperar o próximo. Meus planos de explicar o meu erro foi pelo espaço. Sinto que agi errado e estou prestes a perder a amizade de quem sempre foi tão correto comigo. Hoje isso não poderia ter acontecido, como fui me atrasar tanto? O suor escorre pelo meu rosto. A pessoa pára bem ao meu lado, não quero que fale comigo, não quero falar, só quero pensar, pensar! Por favor, não fale comigo, agora não. Impossível.  Escuto a primeira palavra enquanto seco o suor de meu rosto:
     - Chegaremos os dois atrasados hoje. Espero que ao menos Liana já esteja no escritório.
     Fiquei pálido ao vê-lo. Mas incrédulo de ter a oportunidade de pedir desculpa por um erro, oque está tirando meu sono.
     Os minutos voaram e escuto o barulho do próximo trem. A porta abre, meu colega de escritório e amigo entra primeiro, pela porta da direita e eu logo em seguida, também pela porta da direita. Sentamos. Antes de começar a falar ainda assisto aquela cena do retardatário colocando seu pé, impedindo que a porta feche. É terça.



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