Terça
ou Quinta?
Não
acredito! Vou precisar correr de novo.Toda manhã é a mesma coisa. Vou acertar meus horários. Tenho que chegar ao escritório a tempo de falar com ele antes de Liana. Preciso conversar com ele antes que ela despeje todo o seu veneno.Com
sorte, descendo essa escada correndo chego na plataforma a tempo de entrar no
trem.
Por
que as pessoas não sobem a escada pela direita? Porque? Por que sempre tem
alguém obstruindo a minha passagem. Não vou conseguir! Não, não vou!
Quando
chegar ao escritório não dará mais tempo. Escuto o som do trem e estou nos primeiros
degraus da escada, uma pessoa sobe na minha direção, pela esquerda, carregando
muitas sacolas e esbarrando em mim, o suficiente para me atrasar mais ainda.
Não
consigo me controlar e falo em tom irritado: Suba sempre pelo lado direito, por
favor! A mulher me olha incrédula. E eu não acredito na minha própria
irritação. Tudo parece dar errado já nas primeiras horas da manhã. Continuo
descendo a escada, minha testa está molhada de suor. O trem está na plataforma,
mais um pouco e conseguirei. Meus olhos controlam os degraus e ao mesmo tempo a
porta aberta me esperando.
Preciso
levantar mais cedo. Não, na verdade tenho de deitar mais cedo.Tenho de perder
esse costume de ver filme até muito tarde, estou pagando o preço por não descansar
o suficiente. Hoje é terça-feira e eu estou exausto, até parece na verdade
quinta, aquelas quinta em que você fica torcendo para que seja sexta. Quem
ainda não confundiu uma quinta com uma
sexta? Isso acontece sempre comigo. Exausto. Sinto-me exausto e irritado. Agora
só falta chegar atrasado no escritório para que a terça-feira se complete.
Não
vai dar. Escuto o zunido da porta do trem fechando. Olho fixamente para o
primeiro vagão, meus olhos na verdade ultrapassam a cabine onde se encontra o
condutor, como se quisesse que ele entendesse que não posso perder esse trem.
Ele precisa abrir essa porta. Como pode fechar a porta assim? Eu continuo
olhando para o primeiro vagão, esperando. O trem começa a movimentar-se. Minha vontade
é xingar o condutor, a mulher das
sacolas, a escada e até a pessoa que vem logo atrás de mim, apesar de estar na
mesma situação que eu, afinal, também perdeu esse trem.
Que
remédio? Só resta esperar o próximo. Meus planos de explicar o meu erro foi
pelo espaço. Sinto que agi errado e estou prestes a perder a amizade de quem
sempre foi tão correto comigo. Hoje isso não poderia ter acontecido, como fui
me atrasar tanto? O suor escorre pelo meu rosto. A pessoa pára bem ao meu lado,
não quero que fale comigo, não quero falar, só quero pensar, pensar! Por favor,
não fale comigo, agora não. Impossível. Escuto a primeira palavra enquanto seco o
suor de meu rosto:
- Chegaremos os dois atrasados hoje. Espero
que ao menos Liana já esteja no escritório.
Fiquei
pálido ao vê-lo. Mas incrédulo de ter a oportunidade de pedir desculpa por um
erro, oque está tirando meu sono.
Os
minutos voaram e escuto o barulho do próximo trem. A porta abre, meu colega de
escritório e amigo entra primeiro, pela porta da direita e eu logo em seguida,
também pela porta da direita. Sentamos.
Antes de começar a falar ainda assisto aquela cena do retardatário colocando
seu pé, impedindo que a porta feche. É terça.
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